um dia também seremos assim?

darren: todos seremos assim!
bobby: assim como?
darren: sem ninguém que nos queira!
helen para darren: de qualquer modo, também a ti ninguém te quer!
bobby: estou certo que isso não é verdade!
may é uma avó que vive nos subúrbios. durante uma visita aos filhos, bobby e paula, em londres, o marido morre de um ataque cardíaco. mas may não consegue regressar a casa, não está disposta a ser mais uma velhota para quem a vida terminou como as suas vizinhas.
may fica então a viver com a filha paula, em londres. e apaixona-se por darren, um homem com metade da sua idade, amigo do filho que lhe está a recuperar a casa, e amante da filha paula.
“a mãe” é um filme que nos mostra tão de perto as cruas necessidades da natureza humana, que, por vezes, quase desejamos poder desviar o olhar. como um convencional drama familiar temos um pouco de amor, um pouco de tristeza e algumas duras verdades. mas temos também o retrato de vidas que não podem ser redimidas. temos o desmoronar de uma família à medida que cada um descobre novas verdades, sobre os outros e sobre si mesmo. e fica a dúvida: só conseguimos amar quem não conhecemos verdadeiramente?
(…)
o filme reflecte delicadamente a mudança de sensibilidade de may, a sua re-descoberta e abandono, emoldurando-a em umbrais de portas, janelas e espelhos, num jogo de tecidos brancos. e à medida que o sexo traz a may um novo brilho (a cena em que trauteia a música "space oditty" de david bowie é, no mínimo, refrescante), o desespero que corrói paula fá-la parecer tão velha como a sua mãe. mais do que uma forma de amor, o sexo é aqui usado como uma arma.
(…)
no final, no meio de tanto desespero e crueldade ficamos sem nenhum personagem do qual possamos verdadeiramente gostar. só nos resta a esperança de quando chegarmos à idade de may tenhamos pouco de que nos arrepender e tenhamos alguém que nos queira.
por rita almeida http://cinerama.blogs.sapo.pt/
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