esse abismo infinito

garden state relata o retorno de um jovem actor desconhecido à sua cidade natal (andrew largeman), motivado pela morte da sua mãe, depois de nove anos de ausência. andrew, dependente desde os nove anos de idade de lítio, foi passando pela vida num turbilhão de emoções até que a morte da mãe o inspirou a largar os comprimidos para ver o que aconteceria.
nesse regresso ‘large’ reencontra velhos conhecidos por todas as esquinas; todos com vidas idiossincráticas e empregos peculiares, como coveiros, reis do império do fast-food e mestres na arte dos esquemas em pirâmide. em casa, large faz tudo evitar confrontar-se com o pai.
por um golpe do destino, large conhece sam, uma rapariga que é tudo o que ele não é: uma explosão de cor, esperança e excentricidade. de pé atrás, large acaba por sucumbir ao afecto e à bravura de sam, abrindo o seu coração para a alegria e para o sofrimento que fazem parte da vida.
este é um daqueles filmes que deixa um sabor agridoce, ora se mostra com um potencial enorme, com construções de ambientes lo-fi e atomosferas discretas e despretensiosas, que dão um carisma peculiar e maior realidade e verosimilhança aos acontecimentos, deixando o brilho para as interpretações, especialmente de zack braff, natalie portman e peter sarsgaard, ora revela um pouco aquilo que se pode designar por uma premissa simples e lamechas: a do jovem que volta à sua terra natal e faz as pazes com tudo e com todos e com a vida, descobrindo a capacidade de amar e o amor.
mas há alguns apontamentos interessantes, tais como o casal que vive num ‘barco’ junto a um ‘fenómeno geológico’, no qual iria ser construído um centro comercial, e que se dedicam a investigar esse ‘abismo infinito’ como lhe chamam, e a quem lhes basta na vida simplesmente o facto de viverem ali em comum com a filha de ambos, afastados do resto do mundo. que mais se pode querer? pergunta o membro masculino do casal. depois de os protagonistas se encontrarem com este casal, despedem-se desejando-lhes boa sorte nesse ‘abismo infinito’. esse ‘abismo infinito’ que é afinal a vida…
e há também lugar aos confrontos e indagações geracionais, a (des)identificação com os outros, com o grupo, ou se se quiser com os ditos ‘normais’, quando andrew refere que sente que não fez na sua infância / juventude aquilo que é normal ou suposto fazer, ou aquilo que os amigos fizeram…
entre outros pormenores, cuidadosamente trabalhados… mas para isso só vendo o filme e ouvindo a banda sonora que também é interessante
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