improvement makes straight roads, but the crooked roads without improvement, are roads of genius. william blake <>if music be the food of love, play on… William Shakespeare
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Ele há coisas na vida que realmente são regeneradoras e que aguçam a criatividade. Por isso, e a pedido de várias famílias, e como parece que isto já vai sendo quase que uma colecção de 'cromos' aqui vai o registo / inventário do nick camaleão...

PODE O GOVERNO SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS SOBRE O AEROPORTO DA OTA PARA QUE NA SOCIEDADE PORTUGUESA SE VALORIZE MAIS A 'BUSCA DE SOLUÇÕES' EM DETRIMENTO DA 'ESPECULAÇÃO'?

JÁ AGORA: PODE O GOVERNO, A CM DE ESPINHO E A REFER SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS E PROJECTOS SOBRE O 'ENTERRAMENTO DA LINHA FÉRREA NA CIDADE DE ESPINHO'? CLICAR AQUI PARA SABER MAIS

01 novembro 2005

no reino da aparência



uma ilha mítica no arquipélago dos açores corre o risco de desaparecer por falta de população. adriana / ana moreira, filha do mais abastado patriarca, é enviada ao continente com a missão de ‘constituir família por métodos naturais’.

em poucas palavras, esta é a linha que guia adriana na sua viagem tentando cumprir a tarefa que o próprio pai lhe incumbiu, deste de ter sido ele mesmo o causador da ‘maldição’ a que a mítica ilha se submeteu, quando ao tempo do parto de adriana, sua mãe padeceu, e edmundo bettencourt da câmara peixe clama o juramento fatal de que ‘nunca mais se há-de nascer na ilha, nem sequer fornicar’

da calmaria da ilha imaginada, da sua pureza e inocência rurais, a doce e impoluta adriana cai na dura realidade urbana lisboeta, com os seus constantes perigos e ameaças

o que se suporia que seria o prosseguimento da trama, acompanhando a decadência e a perdição pelos recantos macabros da vida dura na grande cidade, não tem necessariamente lugar. adriana nunca caiará em todo o mal, embora passe por lá perto, sem no entanto sequer se aperceber de tal mal, mas também nunca encontrará a sua redenção.

adriana vive assim num pequeníssimo limbo, de somente alguns solavancos, sem grandes geringonças nem altos e baixos, numa história que poderá ser alguma coisa, mas que nunca chega a ser nada

é, no entanto, um filme que faz uma viagem pelo portugal, ou pelos vários países dentro de um, evidenciando as suas ‘múltiplas vozes, cores, pronúncias, cantos, classes e trabalhos’. é uma história de falsidades ou de inverdades, onde tudo aparenta ser, mas não é: é tudo falso, mas falso do melhor que há! diz a falsária que se fez passar por adriana. dos travestis que são mulheres sem o serem, das performances em playback, do miúdo motorista que não o devia ser…

ele há toda a referência a um portugal que existe sem o ser, e a um portugal que o é sem existir verdadeiramente

adriana é um exercício agridoce de reflexão sobre o país, que lança olhares irónicos, e por vezes cruéis, assentes na descrição de situações que roçam o grotesco e o cómico, que oram pedem crítica feroz, ora aspiram por compaixão, num tom que balança em torno do ‘trágico e do lírico’

há contudo, registos de desequilíbrios, ora em situações que se nos parecem irreais, demasiado idealizadas, contra natura, ora em diálogos que nuns casos parecem adequar-se, noutros há um assomo repentino de uma descarga de verborreia literária que quebra toda a espécie de verosimilhança com qualquer situação real

em casos, verifica-se também uma fragilidade ao nível da construção das personagens, que parecem não ter profundidade, estão mesmo ali para desempenhar aquele papel superficial

entretanto, há a nota de merecimento de romper com ditames convencionais, com uma linha de argumento que foge do lugar comum, e percepciona-se um grande trabalho ao nível do adensar de pequenos elementos complementares, ou adornadores da história simples. o resultado, é que muitos destes contributos são desproporcionais, pensando-se: faria diferença para o filme se ali estivessem?

o grande condão centra-se na imagem e interpretação da personagem de adriana, no seu rosto e no seu corpo, que com a sua simplicidade de gestos e de movimentos, tem o seu não-sei-quê de beleza cândida que gera um efeito de ‘cativo’ no observador

adriana (margarida gil, 2005)
site oficial

(*) imagine-se encontrar aqui de novo a contraposição urbano – rural. parece que de facto o país vive de facto numa luta visceral entre o passado e o futuro, entre o que é e o que gostava de ser