improvement makes straight roads, but the crooked roads without improvement, are roads of genius. william blake <>if music be the food of love, play on… William Shakespeare
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Ele há coisas na vida que realmente são regeneradoras e que aguçam a criatividade. Por isso, e a pedido de várias famílias, e como parece que isto já vai sendo quase que uma colecção de 'cromos' aqui vai o registo / inventário do nick camaleão...

PODE O GOVERNO SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS SOBRE O AEROPORTO DA OTA PARA QUE NA SOCIEDADE PORTUGUESA SE VALORIZE MAIS A 'BUSCA DE SOLUÇÕES' EM DETRIMENTO DA 'ESPECULAÇÃO'?

JÁ AGORA: PODE O GOVERNO, A CM DE ESPINHO E A REFER SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS E PROJECTOS SOBRE O 'ENTERRAMENTO DA LINHA FÉRREA NA CIDADE DE ESPINHO'? CLICAR AQUI PARA SABER MAIS

30 outubro 2005

tradicional vs inovador



mesmo a calhar. o sucedâneo de acontecimentos fez com que na mesma semana tivesse a extraordinária oportunidade de contrapor, e de forma extremamente vincada, o carácter tradicional e o carácter inovador, no caso particular, no campo da actuação e performance musical, mas que pode mesmo ser expandido para uma generalização cultural, ainda que completamente subjectiva, superficial e pessoal.

este contraponto surge na sequência da assistência a uma ‘noite de fados’. o evento, surge em si, como um espelho da própria situação que pretendo reflectir. fruto da organização de uma ‘colectividade local’, a dita da noite de fados, em termos do espectáculo, traduziu-se numa qualidade confrangedora, através do desfiar de uma série de interpretes, a quem não faltará o amor e dedicação à música, e em especial àquela que é designada por ‘a canção nacional’, mas a quem faltará o reconhecimento, próprio e alheio, de que terão muito pouco para oferecer à dita arte

há aqui um claro contraponto entre aquilo que é a tradição e a inovação

no primeiro caso, está-se perante um género e/ou performance estabilizada e sacralizada, que o acumular do tempo ajudou a sedimentar. aqui importa sobretudo a qualidade da interpretação, quer ao nível da voz, quer da manipulação exígua dos instrumentos, para deles lhes retirar os sons característicos do género musical em causa

no segundo caso, o que está em avaliação não é necessariamente a interpretação e/ou a reprodução de temas no seu estado mais primoroso, mas a capacidade de criação e de inovação, no sentido de levar mais além aquilo que se conhece, ultrapassar as fronteiras do tradicional

ora, o ‘espectáculo’ a que eu assisti não permitiu chegar ao primeiro caso nem ao segundo, sabendo-se que o expectável seria atingir o primeiro, mas ficando longe

como dizia, entendo haver lugar para uma generalização, e que é aquela que perpassa intrinsecamente na cultura de actuação da massa populacional, caracterizada por um amadorismo em doses exageradas, em praticamente todos os campos de actuação. neste caso particular, não coloco em causa a mais que óbvia devoção e dedicação das pessoas à música e a este género. tendo como pressuposto que uma interpretação o mais qualificada possível é aquela que serve efectivamente para a contínua consagração do género, o que coloco em causa é que precisamente em nome dessa dedicação e dessa devoção, muitos não perceberem que através de actuações menos qualificadas contribuem para a desconsideração do género

um outro contraponto, e que à primeira vista não o seria, é também reflexo do ocaso a que a nos submetemos. refiro-me a uma determinada ‘cultura urbana’, em que supostamente se enquadra o espectáculo de kimmo pohjonen. o paradoxo, ou não, é que o próprio fado descende de uma cultura urbana, embora não contemporânea da actualidade. o que se reflecte neste ponto, é que embora se tratando de elementos que a um dado momento, ou mediante determinadas catalogações, se enquadrem num espírito de uma culturalidade urbana, ligada à vida nas cidades, o facto é que tem-se actualmente na sociedade portuguesa uma vivência física urbana, mas uma vivência rural ao nível da atitude e do comportamento. leia-se aqui rural no sentido da perpetuação de elementos sem introdução de inovação, do amadorismo, do nacional porreirismo, da cultura do desenrascanço, e aqui e ali ainda dominada por entendimentos míopes, crenças irracionais e temores obscuros

por fim, é neste patamar que se encontra a dita ‘sociedade civil’, incapaz de se regenerar e gerir a ela própria, e que pese embora do trabalho que desenvolve, que se poderá até considerar como muito valiosa, quase heróica, acontece num espírito voluntarioso e não voluntário, num espírito desresponsabilizador e não exigente, num espírito descendente e não elevador dos padrões. dito de outra forma, não precisamos de actos heróicos, episódicos… precisamos de actos pensados, planeados, contínuos, oleados, graduais