improvement makes straight roads, but the crooked roads without improvement, are roads of genius. william blake <>if music be the food of love, play on… William Shakespeare
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Ele há coisas na vida que realmente são regeneradoras e que aguçam a criatividade. Por isso, e a pedido de várias famílias, e como parece que isto já vai sendo quase que uma colecção de 'cromos' aqui vai o registo / inventário do nick camaleão...

PODE O GOVERNO SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS SOBRE O AEROPORTO DA OTA PARA QUE NA SOCIEDADE PORTUGUESA SE VALORIZE MAIS A 'BUSCA DE SOLUÇÕES' EM DETRIMENTO DA 'ESPECULAÇÃO'?

JÁ AGORA: PODE O GOVERNO, A CM DE ESPINHO E A REFER SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS E PROJECTOS SOBRE O 'ENTERRAMENTO DA LINHA FÉRREA NA CIDADE DE ESPINHO'? CLICAR AQUI PARA SABER MAIS

26 outubro 2005

je ne suis pas un revolucionaire



'os edukadores' são jan (daniel brühl) e peter (stipe erceg), a quem mais tarde se junta jule (julia jentsch), que chamam a si um papel superior e intervencionista na transformação da sociedade através das suas acções que consistem em penetrar em ‘habitações faustosas’, não retirando nada, mas reformulando, sem nexo, a disposição de toda a mobília e restantes bens materiais, tentando com isso abalar a suposta segurança em que vivem as famílias abastadas, em actos julgados de serviço à causa na busca de uma tão ansiada justiça social, terminando e assinando todas as acções com poderosas frases-arma tais como:
‘die fetten jahre sind vorbei’ die erziehungsberechtigten
os vossos dias de abundância terminaram, os edukadores
‘sie haben zu viel geld’ die erziehungsberechtigten
vocês têm demasiado dinheiro, os edukadores

'the edukators' tenta ser muita coisa ao mesmo tempo, nomeadamente, faz um exercício de colocar três histórias numa: o filme político, a viagem da descoberta / confronto de gerações, e a história de amor a três

o filme político
a barbicha e a imagem das restantes personagens numa procura do imaginário revolucionário dos anos ’60, a busca do ícone che, que se transformou num elemento da mais pura arte da publicidade e do merchandising, e que em boa verdade diz muito pouco a muita gente nos dias que correm

esse confronto do idealismo / pragmatismo, do socialismo / capitalismo é também procurado na remissão à história alemã, através da referência aos dois países, às duas alemanhas: os vendidos ao grande capital e os que jamais o serão: os idealistas, os puristas, os utópicos

a viagem da descoberta / confronto de gerações
o revelar de um conflito geracional: os ‘revolucionários’ de ontem que se manifestaram e marcharam em ’68, que se encontram envelhecidos tanto fisicamente como ideologicamente, são os comandantes de hoje, rendidos e submissos aos capitalismo e à globalização que eles próprios tanto criticavam, em confronto com a angústia da juventude de hoje, que parece não ter causas, e a quem sugere que faltam motivos para se rebelarem: a revolução de ontem é o sistema de hoje, a revolução de hoje será o sistema de amanhã

a história de amor a três
um motivo ao qual não é concedida a força necessária para se afirmar na trama e não leva a lado nenhum

mostra-se como um filme que não justifica o aparato: não basta apanhar o tom superficial de uma época para tocar, de facto, no que lhe é mais visceral

revela um acumular de clichés, onde o diálogo nas montanhas se mostra como o exemplo acabado desse desfiar de clichés, lugares comuns e frases feitas que se vão esgotando, parecendo inclusive que os argumentos em confronto não se enquadram numa mesma conversa

sofre de uma visão militante e activista temerosa perante o mundo globalizado: transpira comunismo, anarquismo, radicalismo. mas fá-lo precisamente da pior forma, não conseguindo passar a mensagem política, antes transforma-se no que se poderá designar por um elemento de merchandising: pede para aderirem à causa, não pelas ideias, mas porque é ‘fixe’, está na moda

dá uma falsa sensação dos acontecimentos, onde a verosimilitude das situações e das personagens é sempre posta em causa, o rumo dos acontecimentos e algumas situações criadas nunca se assumem com grande fiabilidade

e está impregnado de um efeito panfletário marcado por uma aura romântica e aventureira, que pretende arrebatar o espectador no sentido de tomar partido pela luta ‘utópica’ dos 3 jovens, em claro confronto e antagonismo com a visão estereotipada da classe burguesa, entendida como o inimigo a combater a todo o custo, e que é retratada como altiva, arrogante, caprichosa, símbolo de despotismo e latifundiário cujo objectivo é a exploração dos mais pobres e necessitados

trata-se de um exercício demagógico que pretende libertar do espírito do povo, e em especial dos jovens, a vontade de gritar e se revoltar contra as muitas injustiças em seu redor, e acima de tudo, nunca vender os seus ideais e nunca desistir

sobre a afamada frase, enunciada no filme:
‘quem tem menos de 30 anos e não é liberal, não tem coração
quem tem mais de 30 anos e é liberal, não tem cérebro

eu, por mim, tenho menos de 30 anos, e não me considero liberal (seja lá o que isso for, porque para tal catalogação teríamos de definir exactamente o que se entende por liberal). quer isso dizer que não tenho coração!? por outro lado, não sendo liberal, e ainda não tendo ultrapassado os 30 anos, terei eu amadurecido (envelhecido) precocemente!? ainda que possa parecer presunçoso e arrogante, mas entendam-no apenas num sentido provocatório, uma coisa é certa, e não regateio nem admito questionar: tenho cérebro!

resta assinalar as extraordinárias presenças sonoras do arrebatador ‘darts of pleasure’ dos franz ferdinand (clicar aqui para ouvir) e do redentor ‘hallelujah’, de leonard cohen na voz de jeff buckley (clicar aqui para ouvir / versão original)

os edukadores / hans weingartner (2004)
sítio oficial